5 de maio de 2017

FEMINISMO: RESPOSTA AO ARTIGO PUBLICADO NO SPOTNIKS - Parte I e II

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Eu gosto muito dos textos do Spotniks - principalmente os do Rodrigo da Silva - e acho que eles fazem um trabalho excelente de informar e criticar questões políticas. Contudo, ao abordar o tema feminismo, foi bola fora. O juiz apitou impedimento e o cartão vermelho foi para a equipe e para a Renata Barreto, a qual não conheço pessoalmente, mas tenho admiração pelo trabalho que faz. Ou seja, imagina meu susto ao ver o novo artigo?

Uma das coisas mais importantes ao se falar de feminismo é saber o que irá falar. É entender o quão plural e complexo ele é e tudo que o envolve. É evidente que existem críticas e críticas embasadas, mas a grande maioria se perde totalmente em senso comum, generalizações, distorções e espantalhos. Então vamos às considerações.

No começo de seu texto, a Renata fala sobre o voto e sobre a situação da mulher na época da Revolução Industrial. Sua primeira frase já mostra um equívoco.

O movimento feminista é anterior ao Séc.XIX. Historiadores citam Cristina de Pisano, que viveu na metade do século XIV, como feminista pelos seus trabalhos, reivindicações e obras.

Mas o que podemos chamar de ''boom'' do feminismo deu-se no século XVIII, com mulheres como a historiadora e escritora Olympe de Gouges, a qual foi notoriamente conhecida através de sua reivindicação com relação à carta sobre o Direito do Homem e do Cidadão e de sua luta pela igualdade de direitos na Rev. Francesa, e que por meio desta foi guilhotinada. Marquês de Condorcet, considerado por muitos o pai do feminismo, foi o único que se levantou para apoiar Olympe e lutar pelos direitos das mulheres.

Outra figura importante no cenário político da época foi a considerada pioneira do feminismoMary Wollstonecraft, que escreveu sobre educação e os direitos das mulheres e sobre o Direito dos Homens em resposta à crítica conservadora deEdmund Burke, em meados de 1790. O século XVIII é rico em história do feminismo e de mulheres e homens que lutaram juntos por direitos iguais. Sendo assim, fica claro que já no século XVIII o feminismo era forte, determinado e de grande relevância no cenário mundial.

É impossível separar os movimentos de outros países sobre a questão do sufrágio. Cada movimento puxou o outro e assim foi até que todos conquistassem o que buscavam. Mulheres comoLucretia Mott e Susan B. Anthony, dentre outras, foram de extrema importância nos Estados Unidos e na Inglaterra. Para não me estender muito - sabem o quanto eu gosto de escrever - disponibilizarei alguns links incluindo o vídeo daWendy McElroy sobre este assunto.

Quando o Brasil começou a elaborar a Primeira Constituição Republicana, o sufrágio já era arduamente debatido. Cezar Zama e Saldanha Marinho defenderam o sufrágio universal mas perderam por não ter apoio da maioria. No ano seguinte, Almeida Nogueira e Lopes Trovão levantaram novamente a questão. Vale ressaltar que 31 constituintes assinaram a emenda de Cesar Zama, mas a pressão liderada por Lauro Sodré e Barbosa Lima foi tão grande que até mesmoEpitácio Pessoa (que havia subscrito a emenda) retirou o seu apoio dez dias depois.

Dentre os apoiadores sobraram: Nilo Peçanha,Érico Coelho, Índio do Brasil, César Zama, Lamounier Godofredo e Fonseca Hermes. Ruy Barbosa e Barão do Rio Branco se manifestaram em defesa da igualdade política entre os dois sexos. Mas no final, venceram pessoas com pensamentos semelhantes ao de Coelho Campos, que dizia proibir sua esposa de votar.

De qualquer forma, Nizia Floresta manifestou-se com insatisfação sobre as questões do sufrágio na década de 1830. Nessa época, constituiu-se uma imprensa feminina, cujo primeiro periódico foi ''O Jornal das Senhoras'' (em 1852). Exemplos como Josefina Álvares de Azevedo - abolicionista e feminista - engrossavam o coro para que fossem respeitadas, conquistassem direito à educação, ao voto e outras questões como por exemplo o divórcio.

Em 1910, Leolinda de Figueiredo Daltro fundou o Partido Republicano Feminino e a Junta Feminina Pró-Hermes da Fonseca, com o objetivo de ressuscitar no Congresso Nacional o debate sobre o voto da mulher, que não havia sido retomado desde a Assembléia Constituinte de 1891. Bertha Lutz inicia sua campanha no Brasil após seu retorno da Europa, em 1918, e funda a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF) e a Liga pela Emancipação Intelectual da Mulher. Em 1919, junto com Paulina Luisi, Baltazar Brum, Juvenal LamartineCarlota Pereira de QueirósMaria Lacerda de Moura e outros, enfatiza a importância do sufrágio e da luta pela igualdade de direitos.

E foi com as mulheres apoiadas pelo Partido Liberal do Brasil e os políticos que conquistamos o direito ao voto feminino que, cabe ressaltar, não era obrigatório.

Encurtando a história: Juvenal Lamartine peitou a lei, Celina Guimarães foi a primeira mulher a votar (em 1928) e depois de muita luta o direito ao voto feminino foi conquistado definitivamente em 1932.



Alguns Links:
https://dialogosessenciais.com/2015/03/06/a-conquista-do-direito-ao-voto-feminino-nos-eua-resumo-1840-1920/

https://youtu.be/SgTsJSSte28

http://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=262455



Nesta segunda fase da resposta ao Spotniks e à Renata Barreto, vou abordar os pontos que ela enumerou como razões para não ser uma feminista

Com informações rasas e pesquisas visivelmente feitas às pressas, ela enumera 6 razões para não ser uma feminista. Mas sendo feminista, eu te falo que só existe uma razão, e essa razão é a que basta: NÃO QUERER! Não querer se rotular é a única razão para as pessoas que defendem liberdades e igualdade entre os sexos não serem feministas.

Por que eu digo isso? Simples! O feminismo é plural ao ponto de ter vertentes ligadas a ambos conceitos políticos - individualismo e coletivismo - e a grande parte das ideologias. Então, fatalmente você encontrará uma que lhe agrade.

A primeira afirmação é que não é um movimento sobre igualdade. Existem cinco principais vertentes, ao meu ver, de feminismo e dentro de cada uma existem indivíduos que pensam diferente entre si. Exemplos como radicais feministas que são heterossexuais, casadas com homens, mas apenas advogam para que não tenha homem envolvido em sua luta. Feministas liberais e feministas individualistas acreditam na importância do homem e não fazem recortes de classes/étnicos/de sexo. Ou seja, há uma série de fatores, pautas e ações que diferenciam os feminismos.

A questão salarial é um debate cansativo e que sinceramente me incomoda um pouco. Me incomoda pois as pessoas tiram o foco do problema para discutir estatísticas da média. Ambos os lados usam isso. Não é fazendo uma espécie de dança das cadeiras que vamos entender, racionalizar e buscar uma melhoria quando se trata de mercado de trabalho e sexismo.

Quais os motivos de mulheres ganharem menos? Elas são, em maioria, consideradas aquelas que devem cuidar dos seus lares e filhos, então muitas acabam largando seus empregos. Escolha? Às vezes sim, outras não. As leis trabalhistas advogam contra a mulher em vários casos, como aposentadoria e licença maternidade. Várias mulheres em todo território brasileiro são demitidas assim que voltam da sua licença maternidade. Muitas meninas são ensinadas que determinadas profissões não servem para elas. Quanto a isso, pode conferir que há vários projetos em relação às áreas de exatas, industriais e de ciências para incentivá-las. Fora os assédios. Então, tem uma série de fatores que propiciam isso. Achar que é uma mera escolha pessoal ou questão de produtividade é achar que entrou no rio sem se dar conta de que continua na margem.

Cotas na política NÃO é pauta de todas as vertentes. Vejo claramente o quão desinformada está e o uso do senso comum não está ajudando em nada. Qualquer lei que privilegie apenas um sexo é vista com desprezo pelas feministas individualistas. Uma das coisas cruciais é que somos totalmente contra o estado paternalista e não acreditamos que esse tipo de medida favorecerá as mulheres, pelo contrário. Cotas demonstram que não temos força e capacidade de enfrentar as barreiras culturais. Ofende não só as que buscaram pelos seus próprios métodos, mas também ofenderia a todas que lutaram no passado tão arduamente e de forma aguerrida pelos seus direitos.

A segunda afirmação é sobre a frase ''Meu corpo, minhas regras''. Renata Barreto não sabe, mas uma das maiores críticas de feministas de esquerda às feministas liberais e individualistas é a defesa dessa frase. Grande parte do mainstream do feminismo repudia essa frase por causa de assuntos como prostituição e pornografia, infantilizando a mulher e tirando dela o poder de escolha sobre sua vida e sua propriedade. Afinal, o que devemos lutar é para que mulheres tenham poder sobre si mesmas.

Branca, loira, magra, classe média...O padrão. Sim, tem características que te colocariam no padrão considerado belo na sociedade. Mas as coisas tem mudado muito e outros padrões vem surgindo e começamos a ver que existem vários padrões e essa é a beleza do Brasil: uma mistura de raças que transformaram pessoas mais belas e fortes. Não adianta lutar contra a idéia da existência de um único padrão tentando impor outro. Existem vários padrões, várias belezas, vários indivíduos com suas características particulares.

A terceira afirmação é referente à misandria, ou seja, ódio aos homens. Misandria é algo que envolve as mais barulhentas mas não a maioria das feministas, principalmente o feminismo individualista. Não tem espaço para isso. Esse tipo de ação vem, em geral, de feministas que gostam de teóricas como Valerie Solanas e Andrea Dworkin, e que motivam meninas fáceis de serem manipuladas a isso. Infelizmente as pessoas jovens são facilmente conduzidas a defender determinadas coisas que nem sempre são boas. Isso não é característica apenas do feminismo, lavagem cerebral e atitude de colmeia tem em todos os coletivos.

Você não encontrará Wendy McElroy ou Sharon Presley odiando os homens. Dúvidas? Entre no grupo do Association of Libertarian Feminists.

Quase toda semana somos surpreendidos por notícias de empresas que são achincalhadas por grupos feministas. Assim ela começa a quarta afirmação. Sara Winter com sua amiga na praia de Copacabana vende mais notícias do que as feministas de uma ONG que fazem grupos de terapia com homens que agrediram suas mulheres. Nessa mesma semana a mídia focou mais em fazer chacota pelos quatro votos do Jair Messias Bolsonaro que em falar sobre o perigo de ter um Rodrigo Maia como Presidente da Câmara. Usar a mídia? Mesmo? O povo gosta de confusão, o que mais dá ibope e causa é o que será mais compartilhado.

De fato muitas feministas e pessoas do movimento LGBT e movimento negro passam totalmente das medidas, para elas as críticas. Usá-las como exemplo de todo um movimento é desonesto. Não faça isso!

Sem entrar nos assuntos abordados, sobre a questão das empresas é direito do individuo boicotar e usar da sua liberdade de expressão para criticar algo que não concorde. Não é isso que nós, liberais, defendemos? Ou será que alguns liberais e libertários só defendem isso quando concordam com as motivações?

Mulheres deveriam ter o direito de se defender. Ora, mas é tudo que nós, feministas individualistas queremos. Ué, não sabia disso? Está vendo? Esse é o mal de ficar na margem sempre. Somos todas armamentistas e defensoras da autodefesa.

A questão Islã é uma das causas que mais me incomoda, e quem costuma me seguir nota pelos meus posts sobre o assunto. Muitas feministas de esquerda ignoram essas causas com a desculpa do multiculturalismo e criticam quem debate sobre isso por induzir uma suposta islamofobia. Ayaan Hirsi Ali, uma feminista e ativista contra o Islã é ameaçada de morte pelos seus livros e palestras. Até mesmo Malala Yousafzai critica a questão da educação para meninas no Islã. Existem várias feministas que criticam ferrenhamente o Islã, a Sharia e os absurdos não apenas cometidos pelo Islã mas apoiados e ignorados pela maioria das feministas de esquerda.

Quando se quer muito olhar para uma pedra, não se vê a beleza da mata que está em volta. Entendeu?



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