6 de maio de 2017

FEMINISMO LIBERTÁRIO: UMA TRADIÇÃO HONROSA

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Por Sharon Presley

Uma breve história das raízes libertárias do feminismo e uma introdução a uma coluna periódica que discutirá o feminismo libertário.
O feminismo libertário faz parte de uma honrada tradição individualista na América. Ao contrário do que alguns podem pensar, as primeiras ativistas feministas não eram socialistas, eram individualistas e libertárias. Embora as mulheres têm resistido ao Estado durante séculos, a primeira resistência explícita à opressão das mulheres começou com a individualista Mary Wollstonecraft na Inglaterra e Judith Sargent Murray na América, no século XVIII.
Wollstonecraft foi uma grande influência sobre as feministas individualistas americanas como Elizabeth Cady Stanton e outros sufragistas. Quando Elizabeth Cady Stanton, Susan Brownell Anthony e Matilda Joslyn Gage escreveram sobre a história do movimento das mulheres em 1881, Wollstonecraft foi a primeira das "precursoras" a quem dedicaram.
As feministas anarquistas individualistas americanas do século XIX, estavam escrevendo muito antes das socialistas. Muitas delas eram ativas dentro do movimento sex-positive¹ que declarou que as decisões sobre amor, sexo e planejamento familiar deveriam ser completamente libertas das influências das autoridades eclesiásticas e governamentais.
Ezra Heywood (1828-1893), com a ajuda de sua esposa Angela Heywood (1840-1935), fundou a primeira revista anarquista sex-positive chamada The Word em 1872, para examinar explicitamente "a abolição da renda especulativa, da escravidão da mulher e do governo de guerra."
A revista mais influente com publicações sex-positive foi Lúcifer: O Portador de Luz (1883-1907). Uma revista publicada por Moses Harman (1830 - 1910). Harman era um viúvo cuja vida pessoal estava acima de reprovação. Ele não era apenas um sex-positive, mas um anarquista, feminista e livre-pensador. Em companhia da sua filha, Lilian Harman, uma notável anarquista, Moses continuou as discussões sobre ''A Questão da Mulher'' (nome no qual chamavam o feminismo na época), que os Heywoods haviam começado. Ao longo de seus 24 anos de publicações, examinou as questões do casamento institucional tradicional, pedindo a independência econômica das mulheres e discutindo a até então desconhecida questão do estupro marital e muito mais.
Sua filha, Lillian Harman (1869-?) foi uma obstinada feminista e sex-positive. Quando casou-se com seu colega anarquista Edwin Cox Walker em um casamento autonomista, ou seja, sem interferência do Estado ou religião,em 1886, o caso tornou-se uma causa célebre para os anarquistas americanos e ativistas do amor livre. A cerimônia de casamento foi ousada, mesmo para os padrões de hoje. Lilian declarou que manteria seu próprio nome e se recusou a fazer voto de obediência. Enquanto Moses, apesar de ter aprovado o casamento, declarou que ele não concedia a Lilian pois ela era soberana de si mesma e assim decidiria por si mesma.
Outra personalidade influente sobre o que era então chamado ''A Questão da Mulher'', foi o jornalista anarquista individualista Bejamin Tucker, com suas contribuições ao Jornal Liberty. Embora o jornal Liberty não estivesse tão explicitamente orientado para os direitos das mulheres, o periódico Lúcifer, na década de 1880, dedicou um espaço considerável à "questão do sexo".
Uma das maiores prolíficas escritoras feministas do Liberty, era Sarah E. Holmes (1847-1929). Ela escrevia com foco na sexualidade e no casamento em 1880. Era uma feminista que ia além do padrão anarquista, defendia a abolição do casamento institucional. Holmes, como Voltairine de Clayre, argumentava contra casamentos em que se baseavam em papéis tradicionais sexuais.
Inúmeros livros feministas originalmente impressos em outros lugares foram publicados no Liberty. Além da adição de Stephen Peral Andrews sobre casamento e divórcio, publicaram também a tradução de Tucker do clássico revolucionário niilista russo, que apareceu pela primeira vez em 1885: ''What's To Be Done?'' - por N.G. Tchernychewsky. No prefácio da tradução, Tucker escreveu: ''A idéia fundamental do trabalho de Tchernychewsky é que a mulher é um ser humano e não um animal criado para o benefício do homem, e seu principal objetivo é mostrar a superioridade das uniões livres entre homens e mulheres sobre o casamento indissolúvel sancionado pela Igreja e pelo Estado.''
No entanto, a mais famosa das feministas anarquistas individualistas foi Voltairine de Cleyre (1866 -1912). Embora depois se declarasse "anarquista sem adjetivos", seu espírito individualista continuou. Seu ensaio "Sex Slavery" foi a declaração mais sistemática da construção social do gênero (antes mesmo de existir um termo), desde os ensaios de Sarah Grimke em Cartas sobre a igualdade dos sexos e a condição das mulheres em 1837. Embora ela não estivesse sozinha nesta crença, muitas feministas tradicionais e a maioria dos anarquistas masculinos aderiram aos estereótipos tradicionais das mulheres como mais fracas e mais suaves e cujo papel primordial era o lar. Este aspecto radical de suas idéias tem sido insuficientemente apreciado, mesmo por pessoas que estão familiarizadas com ela. Alguns de seus melhores ensaios estão agora disponíveis na versão impressa em Requiem Rebel: The Essays of Voltairine de Cleyre.
Após a morte de Voltairine de Cleyre, o feminismo libertário caiu na obscuridade. Apenas uma mulher seguiu a tradição no início do século XX na América, Suzanne LaFollette (1893-1983). Seu livro ''Concerning Women'' (1926), é a primeira exposição integral do pensamento feminista libertário moderno e o único durante seu tempo. Seu colega, amigo e mentor, o ensaísta e editor Albert Jay Nock, o chamou de "brilhante". Nock escreveu que "em todos os momentos, através dos tempos, até que a liberdade seja atingida, este livro será desenterrado e relembrado, assim como Mary Wollstonecraft, mas mais efetivamente, como ainda mais conclusivo."
Na década de 1970, apenas um punhado de mulheres e homens libertários falavam sobre as idéias feministas libertárias. Sua herança foi aparentemente esquecida. No entanto Tonie (Theodora) Nathan (1923-2014), uma jornalista de Oregon, mudou isso. Em 1973, ela fundou a Associação de Feministas Libertárias (ALF) em sua cidade natal de Eugene, Oregon. Na Convenção do Partido Libertário, em Nova York, em 1975, foi fundado o grupo nacional da ALF. Seu site surgiu em 1997. Os ensaios lá incluem "O governo é o inimigo das mulheres", uma declaração que explica o feminismo libertário, separando-o das feministas mainstream que defendem o uso do governo para ajudar as mulheres.
Em 1992, a feminista libertária Joan Kennedy Taylor (1924-2005) publicou o livro ''Reclaiming the Mainstream: Individualist Feminism Rediscovered'', uma história do feminismo individualista nos Estados Unidos que mostrou que a tradição feminista nos Estados Unidos era em grande parte individualista no século XIX. Seu livro ''What to Do When You Don’t Want to Call the Cops: A Non-Adversarial Approach to Sexual Harassment '', no qual foi publicado em 1999 com o patrocínio do Cato Institute.
Como Diretora Executiva da ALF, tenho o prazer de informar que a ALF continua seu ativismo hoje com uma página no Facebook, boletins, ensaios, um blog e um Canal do YouTube, que em breve terá novas entrevistas. Esperamos publicar uma antologia feminista libertária em 2015.
Outra parte do ativismo continuado da ALF é uma nova coluna feminista libertária periódica para o libertarianism.org, da qual meu ensaio hoje é parte. A economista Mikayla Novak iniciou com seu artigo sobre feminismo e economia; A advogada Helen Dale e a escritora editorial Elizabeth Nolan Brown logo seguirão. Nós quatro abordaremos uma série de questões relacionadas com o feminismo libertário: não apenas a herança feminista do libertarianismo, mas também as ligações entre o feminismo e a economia austríaca, por que outras escolas do feminismo muitas vezes parecem tão atraídas pelo poder do Estado e por que os homens libertários - especialmente nos EUA - devem levar os direitos reprodutivos muito, muito a sério. Também abordaremos a questão da disparidade de gênero libertária com o benefício de pontos de vista do Reino Unido e da Austrália, onde a diferença é menos problemática do que nos EUA.
Meus co-colunistas e eu estamos entusiasmados em expandir o legado honrado e radical do feminismo libertário, movendo-o para o século XXI.


Tradução Juliana Schettino (#Jubs)

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